"Toda educação é autoeducação, e nós na qualidade de professores e educadores, em realidade formamos apenas o ambiente em que a criança se educa a si mesma. Devemos propiciar-lhe o ambiente mais favorável possível, para que junto à nós ela se eduque da maneira como deve ser educada por seu destino interior."

Rudolf Steiner



O Exercício da Maternidade/Paternidade Atenta
A maternidade/paternidade atenta é um chamado para o despertar de uma nova consciência e intencionalidade para as possibilidades, benefícios e desafios da tarefa de criar os filhos. Uma atenção consciente, desprovida de críticas e julgamentos, mas acurada em seu discernimento, pode levar à compreensão mais profunda de nossos filhos e de nós mesmos. Tanto mais se praticada no seio de uma comunidade em que tanto as necessidades e dores quanto as conquistas e alegrias de ser mãe ou pai podem ser compartilhadas.

Tal prática, como a concebemos, se baseia fundamentalmente em quatro pilares:
(1) no conhecimento das leis que regem o desenvolvimento humano;
(2) no compromisso com a autoeducação;
(3) no aprender a ler e fazer sentido do que acontece em nosso relacionamento com as crianças, e
(4) na possibilidade de trocar com outros experiências e saberes, construindo uma rede de apoio mútuo.

Consideramos o trabalho dos educadores uma responsabilidade sagrada. Em geral, espera-se dos pais e educadores que sejam nada menos que protetores, nutridores, confortadores, metres, guias, companheiros, modelos e fontes de amor e aceitação incondicionais. Bem sabemos que não conseguimos corresponder totalmente a isso. Mas se pudermos dedicar-nos a esta responsabilidade como um sacro-ofício, e colocarmos um pouco mais de atenção no processo à medida que ele se desdobra, é muito mais provável que nossas respostas sejam guiadas por uma consciência do que esse momento, ou esse menino ou menina _ nesse estágio de sua vida _ necessita e nos pede, através de seu comportamento.
Neste exercício de atenção, a consciência tem de ser inclusiva. Quer dizer, tem de incluir o reconhecimento de nosso próprio pensar, sentir e querer, abarcando também nossas próprias frustrações, inseguranças e defeitos, nossas questões não resolvidas e limitações, e mesmo nossas facetas mais sombrias e destrutivas, bem como as maneiras pelas quais podemos nos sentir oprimidos ou angustiados. Pois em diversos aspectos somos produtos e, às vezes, em maior ou menor grau, prisioneiros dos fatos e circunstâncias de nossa infância e anos de formação. Já que a infância molda significativamente nossa visão de mundo e de nós mesmos, nossas histórias inevitavelmente moldarão nossa visão de nossas crianças e "do que elas merecem ou não merecem" e de como devem ser tratadas, ensinadas e conduzidas. Mesmo que não o percebamos, trazemos por vezes, profundamente arraigadas, visões e crenças (algumas das quais sequer são conscientes), como se estivéssemos dominados por encantos poderosos. Só quando reconhecemos este fato é que podemos "desencantar-nos", e aproveitar o que houve de bom, positivo e enriquecedor no modo como fomos educados, e superar os aspectos que podem ter sido destrutivos e limitantes.
Recentes pesquisas científicas dão conta de que o maior fator preditivo de um vínculo seguro e frutífero entre a criança e o adulto cuidador (pai, professor, ou outro adulto de referência) é a maneira que este cuidador tem de fazer sentido de suas experiências passadas, sobretudo às de sua infância. Tal vínculo, por sua vez, apoia o desenvolvimento da resiliência e do bem-estar das crianças. (Siegel, 2014)
Trata-se, portanto, de oferecer aos pais que o queiram, uma oportunidade de trilhar um caminho que faz da tarefa de educar os filhos uma oportunidade de desenvolvimento autoconsciente e colaborativo.

Dra. Ana Paula Cury