Cristina Velasquez, Articuladora Pedagógica da FEWB, foi uma das convidadas pela organização da Conferência Mundial do Goetheanum para discursar em sua abertura. Cristina falou sobre sua experiência de vida no Brasil e de como ela reflete a diversidade existente no país, revelando um desafio presente nas escolas Waldorf brasileiras: a representatividade desta diversidade em seus espaços. “Como construir pontes entre diferentes culturas a partir do olhar fenomenológico?” Esta foi uma das questões colocadas por ela, relacionada à diversidade étnica e cultural na educação. “Nós, como educadores Waldorf, temos a responsabilidade não apenas de transmitir conhecimento, mas sobretudo de inspirar em nossas crianças e jovens ações antirracistas no mundo”, comentou. Confira abaixo o discurso completo da representante da FEWB na Conferência Mundial Do Goetheanum

"Boa tarde a todos, Estou profundamente agradecida pelo convite para estar aqui hoje, compartilhando comvocês este momento especial no qual trazemos notícias de diferentes partes do mundo. Eu sou Cristina Velasquez, mulher indígena, brasileira e boliviana, e trago em mim a interculturalidade, sou fruto dela. Vivo em um país de abundante diversidade natural: a riqueza de suas florestas tropicais com os mais variados cantos de pássaros, seus animais e o colorido infinito dos peixes que habitam suas águas, cachoeiras e rios sagrados. Deste lugar no qual a riqueza cultural é tão abundante quanto a natural, onde mais de 100 línguas são faladas, pois nele existem mais de 300 grupos étnicos, cada um com maneiras únicas de existir, com suas próprias visões de mundo, originando múltiplas manifestações culturais e religiosas; no qual também 56% da população se identifica como Afro-brasileiros, me coloco diante de vocês como uma representante desta incrível diversidade. No entanto, infelizmente, as escolas Waldorf brasileiras não refletem esta realidade.O racismo é uma ferida profunda em nossa sociedade. Ele se manifesta tanto de maneiras explícitas, quanto sutis que escapam à percepção daqueles que não estão atentos a ele. Como educadores Waldorf temos a responsabilidade não apenas de transmitir conhecimento, mas sobretudo de inspirar em nossas crianças e jovens ações antirracistas no mundo. É desta realidade que trago comigo algumas perguntas: é possível as escolas aceitarem a diversidade presente em cada um? Como crianças brasileiras na Pedagogia Waldorf ou em outras abordagens pedagógicas humanizadas se sentem? É possível construirmos pontes entre a proposta pedagógica Waldorf e nossas diferentes culturas a partir do olhar fenomenológico, livre de julgamento? Podemos de fato coexistir por meio de nossas identidades culturais? Acredito que a educação pode ser a cura para muitas enfermidades, como o racismo, que afetam nossa sociedade. No Brasil, recentemente tivemos o VI Congresso Brasil de Pedagogia Waldorf: um evento sem precedentes que garantiu o protagonismo da diversidade cultural brasileira. Foi uma oportunidade para inspirar os professores a abraçarem corajosamente a necessária e transformadora tarefa de remodelar nossa prática pedagógica no Brasil a partir de aspectos da cultura local."